Há também um outro fenómeno natalício que a minha mãe insiste em manter como uma tradição só dela.

Vestir-me de cor-de-rosa da cabeça aos pés.

Portanto, cá estou eu vestida com um pijama cor-de-rosa com um grande coelho estampado na camisola.

Tenho 6 anos outra vez.

Toda a gente sabe que isto é obviamente um plano de vingança secreta pelas partidas que lhe prego durante o ano, mas ninguém diz nada, porque me adoram ver nestas figuras.

Todos os Natais é-me atribuída uma função nos cozinhados natalícios.

Uma que não implique incendiar a cozinha:

partir nozes.

Agora sim, estou verdadeiramente em casa.

A saudade que sentia de tudo isto, de todos eles, só agora se abateu sobre mim e apesar de estar aqui incompleta, não sinto já a solidão que trouxe comigo.

Viver num local que não é o das nossas raízes, sem os abraços de quem nos quer porque sim, sem este amor que nos sai das veias, acaba sempre por nos subjugar lentamente numa árvore quebrada perante a ventania.

Sentir novamente as minhas raízes, recolher as folhas que vou perdendo, recuperar os ramos que me sustentam e erguer o tronco que se vai curvando com as tempestades.

Precisava tanto disto!