Escreves as tuas lamentações no muro.

Por momentos parecem-te reais.

Transformam-se numa obra de arte exposta ao olhar público.

Contemplam-te com reverência e espanto.

Consegues até sentir orgulho pelos aplausos e pela admiração que os outros te devotam.

Uma admiração pelo pior de ti.

Porque requer o universo a minha presença como espectadora de cenários que não são os meus, de dramas que não pretendo pacificar e outras tantas ilusões que não irei desmistificar? - perguntei-lhe.

O universo manteve o silêncio cadente de uma estrela.

Jamais serei espectadora de damnatio ad bestias, nesta arena da antiga Roma onde seres humanos devoram a sua e a humanidade dos outros. 

Volto as costas para não ver.

Não é covardia.

É a coragem de viver na paz e na tranquilidade em que me tornei.

Habito neste lugar de dúvidas esvoaçantes que gosto de ver voar ao meu redor.

As certezas não têm esta leveza, esta imprevisibilidade, esta liberdade de céu aberto.

Tenho a certeza do incerto e tão certa estou desta certeza inabalável, que vivo nela como embalo de onda infinita por mares nunca dantes navegados.

Certezas tenho poucas e esta é uma delas.