As casas são para se viver nelas
A especulação imobiliária está a arrasar as cidades, desumanizando-as, transformando-as em guetos turísticos, muitas vezes pequenos parques temáticos só para turista ver.
Onde estão as pessoas destas ruas, destes bairros, desta cidade?
Não sei.
Como também não sei onde estará a Dona Eugénia, uma senhora de 70 anos, que um dia desabou num pranto inconsolável, apenas por lhe ter dito bom dia.
Contou-me então que tinha o marido acamado há meses, que tratava dele sozinha, e que agora o senhorio a tinha avisado nesse mesmo dia que ela teria de sair, porque vendera a casa para ser alugada aos turistas.
Para onde é que eu vou, menina, com esta idade?
A Dona Eugénia nos próximos tempos vai descobrir que não consegue pagar nenhuma renda na cidade que a abandonou.
Que terá de se exilar numa nova cidade que não a conhece.
Que sentirá uma profunda tristeza pelo adeus ao bairro onde viveu a vida inteira, aos vizinhos que se tornaram amigos, às ruas que conhecia tão bem.
Que terá de recomeçar uma vida que já não tem recomeços.
Tal como Lisboa muitas cidades europeias vivem este mesmo drama, mas algumas já estão a dizer 'basta!'.
Como Amesterdão que está a planear mudar as leis da habitação para limitar a compra de novas casas aos moradores e travar a especulação imobiliária provocada pelo elevado número de alugueres.
Porque uma cidade precisa de pessoas que vivam nela.