Sempre tive medo de cortar o cabelo.

Como se a força de mulher que em mim habita se esvaísse em cada mecha que a tesoura atirasse ao chão.

Como se cada centímetro conquistado de distância entre a raiz do meu pensamento e as pontas que enrolo nos dedos fossem viagens perdidas de tanto pensar.

Três dedos foi a distância calculada do corte e, ainda assim, já foi demasiado distante.

Gosto de cabelos longos, que se espraiam na areia quando nela me deito, que se atropelam de mar  e maresia quando nele mergulho, que brincam com o meu olhar em dias de ventania.

Os meus cabelos e eu.