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O luxo é o desnecessário elevado ao extremo da ostentação.
O melhor presente que podemos dar a alguém: o nosso tempo.
A memória, por vezes, deixa cair no esquecimento os sabores da infância.
O colorido dos doces vai-se esmaecendo, a alvura da toalha torna-se sépia na recordação e a madeira da mesa vai escurecendo na distância da velhice. O sabor dos doces, outrora de liberdade e aconchego, são agora de uma doçura desencontrada.
A torta de chocolate vinha das mãos da minha mãe.
Da sua cozinha - dela e de mais ninguém - espreitavam bolos do forno, chocolate derretido roubado às escondidas, a toalha de mesa com cheiro a sabão rosa e ralhetes das nossas malfeitorias infantis.
O pão-de-ló vinha da cidade vizinha, terra de mar bravo.
Os ingredientes eram amassados em alguidares de barro vermelho que depois passavam para caçarolas, também elas de barro, forradas a papel branco.
As castanhas doces vinham da vila de estradas serpenteantes.
Para lá chegar, a travessia era feita de curvas e contracurvas pela pequena serra, onde se escondia o convento das freiras bernardas que as confeccionavam.
Outras memórias se atropelam, mas as dos sabores e as dos aromas são as que permanecem intocáveis no esquecimento derradeiro da infância, que vai ficando para trás.
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