Um cavalo da GNR percorreu hoje, sozinho, o centro do Porto, desde as Fontainhas até ao Carmo, em fuga depois de o militar se ter apeado para atender um transeunte.

Ah, as penas que se me dão de não conseguir estar no sítio e momento certos para assistir a eventos como este. 

Desde o lançamento do primeiro Toy Story que nunca mais ninguém conseguiu olhar para a pilha de brinquedos lá de casa da mesma forma. Secretamente, todos começámos a desejar que ganhassem vida, como aconteceu com os do Andy, o protagonista do filme.

Não tenho qualquer desejo secreto de que a pilha de brinquedos cá de casa ganhe vida. 

Brinquedos com poder de decisão, a correr por toda a casa com as suas vozinhas ruidosas e ensurdecedoras?

Mais valia convidar a Sra. Gritinhos (a vizinha lá de baixo) a viver cá em casa.

O que me agrada verdadeiramente é que com o lançamento do filme, decidiram também fazer uma campanha de solidariedade Toy Story 4 -Campanha Partilha & Recicla em que podemos doar brinquedos.

Já estou a operar com a minha rectroescavadora e tenho já uns bons contentores cheios que tenciono lá deixar.

A cada ruga que nos nasce, o mundo muda.

Cada socalco que o tempo nos erode na pele, mais distante o mundo que achávamos conhecer.

Mas o mundo não mudou, pois não?

Foi ele que nos mudou.

Contou-nos cada centímetro e subtraiu-nos em resto.  

E achávamos nós que o conhecíamos.

Nunca o conheceremos.

Ao envelhecer de socalco em socalco em direcção ao rio do esquecimento, é melhor ter cuidado.

Não vá cometermos este indigno sacrilégio de o querer mudar.

Ao mundo.

Deixa-te vestir de escuridão apenas para fora e ninguém verá que brilhas, podes tudo, pensa devagar, pensa depressa.

Faz por dentro e mantém os gestos banais que te garantem o lugar no grupo, na dinâmica de grupo que brada pelo direito à diferença, mas que não tolera o que é impossível de descodificar.

Constrói em ti sem ninguém ver.

Aprende o sabor das palavras, uma a uma, cada letra com o seu sabor e, antes de dizeres em concordância com o mundo o que é suposto, ou apenas político e correto, invade-te com a verdade que ninguém entenderá.

Importa pouco o que o mundo quer que sejas, sê para ti e tudo se tornará mais fácil.

Brilha por dentro. Cá fora faz frio. Acredita em mim.

Patrícia Reis

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