É por isso que escrevo
Ininterruptamente escrevo desde os 12 anos.
Tenho escritos em papel vinte e poucos diários, a maioria deles atafulhados de confissões adolescentes e outros com páginas e páginas de inconfessabilidades que nunca deveria ter escrito.
A caneta Bic foi sempre a minha melhor arma.
Durante a minha adolescência foi quando escrevi mais.
Escrevi durante um ano poesia para o jornal regional da minha cidade que os publicou sem medo. Uns valentes!
Em outro jornal escrevi uma pequena coluna humorística, onde debitava as maiores parvoíces sobre as notícias e o que se passava pelo mundo sob pseudónimo.
Guardei alguns recortes, mas neles já não encontro aquela rapariga destemida que escrevia sem medo e sobre absolutamente tudo o que lhe apetecesse.
A minha mãe foi sempre a minha maior leitora.
Na maioria das vezes às escondidas. Nunca soube o que esperaria ela encontrar nos meus diários, mas nunca me comentou nada do que leu.
Ainda me observa a escrever. Olha-me como se ainda tivesse 12 anos.
Sabe que continuo a escrever em todo o lado. Espreita-me pelo canto do olho quando me vê rabiscar talões de supermercado ou o bloco de notas que trago sempre comigo. Nos seus olhos interrogativos ainda se indaga sobre o que tanto para ali escrevo.
Não me indago sobre o que tanto escrevo, porque o que escrevo não me interessa em absoluto. O que mais me interessa na escrita é o seu acto, o arrancar das palavras que me habitam e deixá-las noutro lugar que não eu.
É por isso que escrevo.
Pela alforria das palavras.