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A Cova da Moura nasceu do fim da ditadura, transformando-se lentamente numa espécie de finisterra independente, mais ou menos como uma colónia perdida dos mais variados herdeiros da descolonização, que se foi abrigando num planalto à sombra híbrida de cova.
Um emaranhado de gente num emaranhado de casas, num lugar emaranhado por uma cidade, emaranhada por outra.
É um enorme complexo, que vive a céu aberto na sociedade portuguesa.
Tem muitas culturas numa cultura própria, muitas esquinas, muitas intersecções, becos e travessas, oficinas, hortas, tascas, comércio, suor, ruído, tijolo, alvenaria, grafitti, antenas parabólicas, estendais, tanques de lavar roupa, degraus, buracos, inclinações, ruas capazes de passar por artéria, outras em que da janela se alcança a janela do vizinho, outras tão estreitas que nem o sol se atreve a lá entrar, outras que parecem um retrato neorrealista de uma aldeia perdida num subúrbio rural.
A geometria da Cova da Moura é variável.
Há assimetrias por toda a parte e inegáveis influências de variadíssimas correntes da pobreza numa arquitetura de condição.
Luís Pedro Cabral in Expresso
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