As dores penosas da cidadania que nos é arrancada
Nem a propósito ou talvez sem propósito, o estado doentio da saúde em Portugal espalha-se aos quatro e mais ventos de quem passa pelo infortúnio de ter de utilizar os seus serviços.
Estar doente em Portugal é proibitivo e não nos podemos dar a esse luxo.
Dulce Maria Cardoso escreve um texto belíssimo de dor, na primeira pessoa, em como uma queda nos pode levar pelas agruras da dor física e pelas dores penosas da cidadania que nos é arrancada pelo definhar da saúde em Portugal.
A ler, um belíssimo texto de tanto doer: Aos Tropeções.
Hospital de Santa Maria. Um edifício desmesurado. Sombrio. A boca já inchou e a compressa que me colocaram sobre o lábio dificulta-me a respiração. Tento arranjá-la e logo uma guinada de dor me faz mudar de ideia. Quieta, tenho de ficar quietinha. O tempo da dor é outro, mas no tempo normal já passaram mais de duas horas desde que a cabeceira da maca em que me deitaram está encostada contra esta parede.