Como se o vazio da vida as tivesse deixado de importunar
Tenho redescoberto o prazer de ouvir rádio.
Vozes e conversas ondeando electromagneticamente de encontro a quem está à escuta é pura física, mas na minha imaginação continua a ser pura magia.
Numa conversa com pessoas que tinham atravessado o deserto da vida, confessavam elas que nunca mais voltaram a ser as mesmas.
Nunca voltariam, diziam. Teriam de viver assim, não sendo mais quem foram, quando à sua volta tudo permanecera imutável.
Tal como na física reside a resposta de como um som se propaga através de ondas eletromagnéticas pelo ar, na física reside também a resposta de como as pausas tranquilas da voz, as risadas sem medo, o embargo sussurrado dos planos que já não o são, se propagam através da tranquilidade do ar que nos separa.
São diferentes estas pessoas.
Alcançaram o etéreo, como se o vazio da vida as tivesse deixado de importunar.