Porque não se pode simplesmente parar de cantar
Apaguei sem querer a minha selecção musical que me demorou meses a criar.
Nesse sem querer instalou-se um silêncio voraz que me tem ensurdecido.
Não concebo a minha existência sem leitura, sem escrita e muito menos sem música.
A tríade que me compõe manqueja ao som de Nessun Dorma, uma das que se salvou e que preenche as intermitências do abandono da música que se foi embora.
Naquele momento inesperado em que Pavarotti não compareceu para interpretar Nessun Dorma nos Grammy Awards de 1998, a noite foi salva pela coragem de Aretha Franklin que cantou à última da hora, sem qualquer preparação.
Não é a melhor versão, mas é a mais corajosa, a que mostra do que a música é capaz, porque não se pode simplesmente parar de cantar.