Uma mulher de família
Tornar-me numa mulher de família foi sempre uma das maiores preocupações da minha mãe.
Um estatuto de tal modo trabalhoso, que implicava aprender a teoria da relatividade do tira-nódoas, a elaboração complexa e detalhada de boletins metereológicos para estender a roupa, passar a ferro à velocidade da luz que por definição era igual a 299 792 458 metros por segundo, estudar a composição, estrutura e propriedades dos cozinhados, bem como as mudanças sofridas durante as reacções químicas que oscilavam de cru a queimado, bem como a sua relação com a conta do gás.
Tamanha genialidade aplicada à força motriz deste estatuto nunca foi digna de um diploma.
Recordo-me vagamente que foi também de extrema importância tornar o meu irmão num homem de família. Implicou uma profunda contemplação da existência a partir do sofá e um fraterno convívio entre os machos da mesma espécie.
Bastou-lhe existir.